ATARAXIA
POETRY OF SHADOWS

Paradise Garage
Alcântara, Lisboa

10 Janeiro 1998

Os Cavaleiros do Templo

A banda. Os Ataraxia são um trio italiano formado em 1985 e constituído por Francesca Nicoli (voz e flauta), Vittorio Vandelli (guitarras e programações rítmicas) e Giovanni Pagliari (teclados). Um quarto elemento, um bailarino mascarado, participa habitualmente nos espectáculos ao vivo, desempenhando diversas coreografias. Objecto de culto de uma ainda vigorosa minoria de entusiastas do rock gótico e suas ramificações, os Ataraxia caracterizam-se essencialmente pelos dotes vocais de Francesca Nicoli que, em conjunto com o som de instrumentos antigos e actuais, numa mistura entre dark-folk, new wave, música litúrgica, medieval e barroca, produzem, ou pretendem produzir, ambiências fétiches perdidas no tempo. As letras dos Ataraxia são cantadas em várias línguas: latim, italiano, francês, inglês, espanhol e, até, português.
O local. O Paradise Garage, ex-Gartejo, revelou, uma vez mais, ser a sala de Lisboa (do País?) com melhores condições para o acolhimento de concertos desta dimensão. Apesar do relativo desconhecimento a que os Ataraxia se encontram votados, o clube de Alcântara cedo se compôs de uma audiência de velhos e novos (!) adeptos do goth rock, notando-se a predominância quase absoluta do negro vestuário e a presença sempre obrigatória de ícones como cruzes, óculos escuros a la Andrew Eldritch, chapéus de aba larga a la Wayne Hussey, camisas de folhos, etc.
O prólogo: Poetry of Shadows. Aos portugueses Poetry of Shadows foi encarregada a tarefa de abrir a contenda. Numa perfeita mistura entre a falta de originalidade e pretenciosismo q.b., os Poetry of Shadows, que já possuem trabalhos editados, ofereceram ao público trajado de negro o seu goth rock, pejado de tiques de bandas góticas dos anos 80 e início dos anos 90, onde a influência dos Fields of the Nephilim é gritante.
O espectáculo. Três "pseudo-púlpitos" indicavam a disposição do trio em cima do palco, onde, pouco depois das 10 horas da noite, entraram em cena os aguardados Ataraxia. A abertura do espectáculo foi feita com Francesca Nicoli, qual valquíria, a ler (num macarrónico inglês) um texto onde Portugal, «terra de segredos e mistérios», era apresentado como o tema a explorar ao longo do espectáculo, como se veria por intermédio de temas como «Almorol», «Nossa Senhora dos Anjos» e «Batalha». Em cerca de meia hora, os Ataraxia mostraram temas novos e alguns já editados, como é o caso de «Ophelie» e «Rei Sotterranei Dell'Opera». O ser mascarado, no seu espaço reservado, desempenhava aí coreografias próprias a cada tema. Na segunda parte, que durou quase uma hora, não se viriam a notar especiais diferenças em relação à primeira. «Nossa Senhora dos Anjos», um canto litúrgico que viria a ser repetido no encore, assumiu algum destaque no alinhamento dos temas, com a voz de Francesca a atingir notas proibitivas, enquanto que os restantes temas confirmaram aquilo que os Ataraxia pretendiam, em termos musicais, neste espectáculo: uma forte predominância da guitarra clássica de Vitorio Vandelli acompanhando a voz pop-operática de Francesca Nicoli, criando ambiências sonoras distantes da new wave a que os Ataraxia são habitualmente associados, o que não impediu, no entanto, que o primeiro tema do encore, «Lucrecia», pisasse os terrenos mais escuros da música do início dos anos 80. Alinhamento completo do concerto: (1ª parte) Antinea (98); Ophelie (95); Hydra Hyali (98); Rei Sotterranei Dell'Opera (96); Almorol (98); Omne Datum Optimum (98); (2ª parte) Le Ore Rosa Di Mazenderan (96); Filava Melis (98); Nossa Senhora dos Anjos (98); Batalha (98); Aperlae (98); (encores) Lucrecia (95); Charola (?); Nossa Senhora dos Anjos (98).
Nota final: o concerto foi alvo de gravação para posterior edição em vídeo e audio, edição esta a cargo da portuguesa Symbiose.

VJ


Contactado pela Music.net, um representante da Symbiose negou qualquer apoio e facilidades a jornalistas com vista à cobertura da actução dos Ataraxia. Ao inquirirmos porquê, foi-nos comunicado que tal decisão tem a ver com atitudes de colegas nossos, ao serviço de outros orgãos, no decorrer o anterior concerto organizado pela discoteca do C. C. Portugália, dos Current 93.
Lamentando tal decisão ("pagarem todos por um" sabe sempre mal) e atitudes, às quais a equipa da Music.net é completamente alheia, não deixámos, mesmo assim, de marcar presença no Garage, para que vocês possam ler como foi.

Vitor Junqueira