Fade In 2004

 

 

foto de: Paulo Moreira | Rock Sound

Sábado, 14 de Fevereiro, Orfeão Novo

ATARAXIA (Modena – Itália)

Provou-se que os Italianos Ataraxia são um grupo de culto no nosso país. A sua música é específica e direccionada, e a sua vastíssima obra confere-lhes uma personalidade única, tornando-os num ícone de referencia no circuito alternativo mundial. Leiria teve, pois, oportunidade de ver ao vivo uma banda que é citada como influência por centenas de outras bandas. O concerto no Orfeão Novo de Leiria, que marcava a quarta presença deste colectivo em Portugal (em 1997 actuaram no antigo Cine-Teatro de Pombal, e em 2001 em Lisboa e Porto) tinha data única e era mais uma produção exclusiva do Fade In – Mostra Itinerante de Música em Leiria. Não foi, por isso, de estranhar, que a ele viessem pessoas oriundas dos mais diversos locais de Portugal e Espanha, e que o concerto apresentasse lotação (diríamos até, sobrelotação...) esgotada três semanas antes da sua data.
O concerto teve duas partes distintas. Na primeira Francesca Nicoli (voz), Vittorio Vandelli (voz, guitarra), Giovanni Pagliari (voz, teclas) e Riccardo Spaggiari (percussões várias) apresentaram, pela primeira vez ao vivo, o novo trabalho “Saphir” (décimo quarto álbum do grupo da cintura Modena/Regia Emilia). Sete canções que (primeiro se estranham mas, diz-nos a experiência e disse Fernando Pessoa, depois se entranham) revelam uma banda com um componente cada vez mais rítmico, com trejeitos da chanson francaise, com arabescos da música flamenca, com um piscar de olhos à música celta, tudo devidamente enquadrado nos tons operáticos, ora graves ora agudos, da peculiar voz de Francesca. Entre “Azar”, “Jardin de Lune”, “Outremer”, “Rue Bleue”, “D’arc et D’harp“ e “A Green For Her Voice“, foi “The Gentle Sleep“ que fechou a primeira parte do concerto e foi também este tema que, pelo seu andamento em crescendo e em toada marcial, nos ficou, à primeira, na memória.
Depois de um curto intervalo, a banda regressa ao palco para interpretar alguns dos seus “clássicos“. São tantos que compreendo terem deixado de fora pérolas como “Il Bagatto”, ou “Belle Rose Porporine”... Francesca aproveitou para fazer um novo penteado. Está ainda mais bonita! “Arcana Eco” e “Veules Les Roses” são temas relativamente longos. Sem darmos por isso, parece que começamos a voar. A viagem leva-nos entre sentidos e emoções, e temas como “Antire” e “Astemilusa” são episódios (ou etapas?) dessa mesma viagem. Acordamos na força e no arrepio de “Tu Es La Force Du Silence” e verificamos que, afinal, estamos no mesmo lugar. E é já agarrado com força à cadeira que sinto dificuldades em não voar de novo ao som de “Aperlae”. A segunda metade do concerto termina com o fervor de uma extraordinária “Encrucijada” que a todos deixa rendidos.
A banda sai de cena mas o público não arreda pé. Os Ataraxia voltam e o primeiro encore dá-se com a banda a brindar os presentes com um português “Nossa Senhora dos Anjos” e ainda com “Oduarpa”. Saem de novo do palco, mas o público recusa-se a sair dos seus lugares. Os aplausos exigem segundo encore. O grupo acede e interpreta o bonito “La Lira d’Apollo” e, de novo, o tal soberbo tema de “Saphir” que tinha fechado a primeira parte: “The Gentle Sleep”. As luzes do auditório acendem-se e a banda vê o público que os aplaude de fronte, em pé, e entusiasticamente. Mais palavras para quê?


 

Textos: Carlos Matos

 

 

 

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